Era uma vez um menininho que gostava de desenhar no chão de areia úmida no terreiro de sua casa. Com o pé direito ele limpava a terra e com um graveto ia traçando figuras de seus personagens de quadrinhos preferidos: Fantasma, Águia Negra, Mandrake, Tarzan, Recruta Zero e tantos outros. O garotinho magro, moreno, de cabelos lisos e olhos negros se chamava Mário Adolfo e desde criança já tinha uma mente inquieta e cheia de sonhos.
Em 1970, Mário Adolfo leu um anúncio no jornal A Notícia, de Manaus, convocando desenhistas para ilustrar o jornalzinho infantil A Noticiazinha. Empolgado com a oportunidade, o garoto passou noites em claro até criar o Coelhinho Neco, seu primeiro personagem. Juntou seus esboços e levou correndo à editora do jornal, na época a jornalista Cidúlia Mello, que prontamente aprovou a criação, principalmente por seus argumentos criativos que já marcavam a obra do jovem.
Em 1976, Mário Adolfo foi aprovado no vestibular para o curso de jornalismo da antiga UA (Universidade do Amazonas) e logo depois começou a estagiar no Jornal A Crítica. No corre-corre da redação conheceu Cristina Calderaro, a filha do dono do jornal, Umberto Calderaro. Foi ela quem descobriu que Mário desenhava quadrinhos e deu a primeira oportunidade para o jovem jornalista, que passou a criar, semanalmente, um desenho para ilustrar a capa do jornal. Quanta responsabilidade!
No ano de 1983, Umberto Calderaro, já cansado de publicar apenas conteúdos infantis de fora como Disney, Peanuts, Ziraldo e Turma da Mônica, decidiu criar um suplemento infantil que seria encartado nas páginas de A Crítica, mas com uma condição: esse suplemento deveria ter a cara e representar fielmente a região, povo e costumes da Amazônia. Um belo dia, o aprendiz de jornalista foi chamado à sala de seo Calderaro.
— Oi, rapaz. Senta aí. Tu tem peito para criar um personagem infantil do zero? Mário, que à época era apenas um “foca” não pensou duas vezes
— Claro que sim!
— Ótimo. Cria algo e traz para eu ver. Tens uma semana.
Mário Adolfo foi para casa nervoso e ansioso. Afinal, era a sua grande oportunidade, mas criar algo tão importante, e em pouco tempo, não era nada fácil. Começou a rabiscar um desenho atrás do outro, inúmeras folhas de papel amassadas pelo chão, mas nada o agradava. Exausto, foi caminhar pela casa para clarear a mente, quando viu o seu filho Marinho (Mario Adolfo Filho) com apenas 02 anos brincando na sala. Cabelinho liso, franja nos olhos, barriguinha saliente e perninhas grossas.
Estava ali seu personagem. Voltou correndo para a prancheta e começou a rabiscar novamente. Traço vai, traço vem e o resultado foi um garotinho simpático e alegre que sorria para o seu criador no papel. O nome não poderia ser outro: Curumim. Um indiozinho corajoso e inconformado que defenderia a floresta contra os invasores e ameaças do “mundo civilizado”. Mais regional e representativo do que isso impossível!
Na semana seguinte, Mário juntou seus esboços, colocou a pasta debaixo do braço, se encheu de coragem e foi à sala do chefe. Umberto Calderaro, que tinha um faro impressionante para jornal, analisou cuidadosamente cada folha com atenção. Foram apenas alguns minutos, mas para Mário, que tremia de ansiedade, aquele momento parecia não ter fim. Depois de um longo silêncio, Calderaro guardou as folhas de volta na pasta e encarou o jovem jornalista.
— Garoto, você acertou em cheio. Temos um sucesso em nossas mãos. Chamou o chefe da diagramação, José Veríssimo, e deu o comando.
— A partir de domingo, o Mário vai editar o jornal Curumim. Quero uma chamada de destaque na capa. Agora é com você, meu jovem. Boa sorte!
E foi assim que nasceu o personagem Curumim, que seria lançado no dia 1º de maio de 1983. Logo no Dia do Trabalho, vejam vocês! No primeiro número, o Curumim recebeu mais de 100 cartinhas, com fotos, desenhos e elogios.
O resto, como dizem por aí, é história.
Mário Adolfo é um dos mais premiados jornalistas do Estado do Amazonas. Profissional formado pela Universidade Federal do Amazonas, em 1981, começou a trabalhar em jornal aos 14 anos, desenhando história em quadrinhos,
Em 1976 entrou para a redação de A Crítica, onde foi repórter especial e editor do Curumim, o primeiro suplemento infantil do Amazonas, trabalhando ao lado de nomes lendários do jornalismo, como Leal da Cunha, Serafim Corrêa, Fábio Lucena, Manoel Liama, Mário Antônio Susmman, Hermangarda Junqueira, Messias Sampaio, Plínio Valério, Cláudio Barbosa, Beth Azize e Mário Monteiro.
Durante seu tempo em A Crítica, Mário Adolfo galgou todos os postos, tais como repórter, editor internacional, repórter especial, cartunista político, criador e editor do suplemento infantil Curumim, encomendado por Calderaro que viria a ser a sua grande obra no jornalismo.
Em 1987, depois de uma greve por piso salarial da categoria, Mário Adolfo e mais 18 profissionais de A Crítica se transferiram para o jornal Amazonas em Tempo, onde ele assumiu os cargos de repórter especial, editor de opinião, editor assistente, editor executivo e diretor de redação.
No Ano de 1978 ganhou o prêmio de Revelação do Ano pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do estado do Amazonas. Ganhou dois Prêmios Esso – o Oscar do jornalismo brasileiro. O primeiro em 1984, com uma série sobre o ouro no Amazonas; o segundo em 1997, com uma série de reportagens intitulada “Expedição Quilombo”, um trabalho de jornalismo investigativo que descobriu vários quilombos em meio à floresta e cachoeiras do Rio Trombetas, no Pará.
O avanço das igrejas e a exploração comercial do nome de Deus gerou outra série de reportagens – A indústria da Fé – que deu ao Mário Adolfo O Prêmio caixa Econômica de Jornalismo Social em 1995. Recentemente ele ganhou o Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 2014, com o Caderno Especial “O Milagre dos Peixes, reportando o manejo do pirarucu em Anamã. Em 2007, recebeu ainda o Prêmio Fieam em reconhecimento ao seu trabalho dedicado às crianças, com o Curumim. Com esse simpático indiozinho, Mário Adolfo cruzou fronteiras. A convite do então governador Amazonino Mendes contou as potencialidades naturais e econômicas do Amazonas, na Cartilha do Curumim, que foi lançada na Academia de Ciência Sueca, em Estocolmo. Em 1992, convidado pelo SESC lança “Curumim, o Último Herói da Amazônia”, uma coletânea de quadrinhos, na Feira de Livros Infantis do SESC.
Em 2000, o secretário de Cultura Robério Braga o convida para criar uma história em quadrinhos explicando o que era Ópera, Mário escreveu e desenhou “A,É,I Ópera” , que foi lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro. Em 2004 produziu “Curumim Contrário ao Lixo”, cartilha ecológica em quadrinhos lançado no Festival Folclórico de Parintins.
Nasceu em Manaus (AM), filho de Adolfo Fernandes (falecido) de Castro e Inês Aryce de Castro. É o único filho homem, de uma família de seis irmãs, Mércia, Marilúcia, Marília, Mary, Maud e Mônica. Casou com seu amor de infância Maria Teresa Pessoa Figueiredo, com quem teve dois filhos, Mário Adolfo Filho e Marcus Vinícius.
Mário Adolfo tem nove livros publicados – O Dia da Abertura (1978), O Que Dá Pra Rir Dá Pra Chorar (1985), Curumim, O Último Herói da Amazônia (1992), A.E.I. Ópera (2000), Conversa Pra Boi Dormir (2001), Meu Bloco na Rua (2011), Amor de Bica (2003) Perfil Senador Arthur Virgílio Filho (2014) e Curumim – O Último Herói da Amazônia (2021).