Qual é o seu sonho? A pergunta, quando feita às crianças, pode trazer respostas surpreendentes. E ampliar a nossa prática pedagógica.
Trabalho na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Marilda Aparecida Montemor, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Todas as turmas do Pré-2 que fazem parte da rede municipal desenvolvem o projeto “Pedagogia Empreendedora dos Sonhos”. Além de expressar seus desejos por meio de múltiplas linguagens (fala, desenho, escrita espontânea, fotos, dramatizações, músicas, histórias, entre outras), as crianças, entre 5 e 6 anos, aproximam-se do empreendedorismo no sentido de planejá-lo, colocá-lo em ação, tornando-o algo intrínseco.
Uma das etapas do projeto é o envio de bilhetes para as famílias dos alunos, explicando a proposta e convidando-as a debater sobre seus sonhos. Na volta à sala de aula, nos reunimos em roda e conversamos a respeito. Também convido cada aluno a responder qual é seu grande sonho.
Raul foi além de qualquer pedido material, e nos deixou surpresos. Trouxe do bate-papo com os pais o desejo de ver o fim da guerra na Ucrânia. A invasão russa no país acaba de ultrapassar os 500 dias.
Muitas crianças ainda não tinham ouvido falar do conflito, tampouco debatido o assunto antes, que costuma ser distante do universo infantil. Ao justificar a opção, Raul disse que ficava triste em saber que havia uma guerra no mundo, pois muita gente estava triste. A turma toda, curiosa, não hesitou em votar no sonho de Raul, escolhendo o fim da guerra na Ucrânia como sonho coletivo. E aí nasceu meu desafio.
Como abordar um assunto tão árido com crianças pequenas? Escrevi novamente para os responsáveis, comentando a escolha durante nossa Assembleia. A adesão foi imediata. Tive que investigar e buscar informações sobre a melhor forma de abordagem do assunto e contei com a intensa parceria dos familiares durante o processo. Em casa, muitos pais faziam pesquisas sobre a cultura ucraniana com os pequenos.
Li muitas indicações na internet sobre como falar de guerras com crianças, e não expus imagens de violência ou falei sobre morte e os horrores das guerras. Busquei uma maneira lúdica para explicar que se tratava de uma briga entre dois países, comparando com uma briga entre duas pessoas.
FONTE:porvir.org